terça-feira, 19 de maio de 2009

Caminho Intricado

Estavam sentados na pedra à beira da prainha quando um vento de sul os cortou os olhos. Cabedelo apresentava serenidade absoluta na face, mas seu coração estava farto de mentiras, de atrocidades e revezes que o colocava frente a frente com seu maior pesadelo.
Nanda o olhava sem pretensão ou desejos, mas, mesmo assim o olhava. Esperava por alguma palavra, alguma solução para o indissolúvel. E quando o vento se aquietou ele olhou para o céu, passou sua mão direita pela pedra lisa e depois a mesma mão no rosto, fitou-a com ingratidão e abriu a boca:
- Não posso mover meus passos por esse atroz labirinto – começou – nem mesmo para explicar-lhe o que houvera com este coração. Na vida somos todos mágicos e, em algum momento insano, acreditamos na mágica que fazemos.
- E você acredita mesmo ser um mágico? – ela perguntou com um riso desleixado nos lábios.
- Não. Sou o que chamam de ‘hipócrita’! Não posso mover meus pés nisto tudo que me arreda. Cada canto está cercado por uma pétala que secou. Parte de uma flor que por aqui passou e me dixavou, concordando com minha investida desmedida e, digamos, quase perfeita. Era pra ser um coração imenso, como parte de um sistema perfeito de amor! Foi passando o tempo e nada acontecia, coisas iam e vinham e nada me aparecia de novo – Cabedelo parou de falar e olhou a Ilha Bela ao fundo, apertou os olhos e suspirou – era pra ser algo imenso, realmente imenso, mas acabei aqui neste labirinto de vida. Coisas vêm e vão e este pedido de socorro ainda me acomete.
- Você está perdido? – perguntou franzindo a testa e logo após desfazendo da dúvida – Sentimento estranho e desmedido ceifando sua coragem. – ela deu de ombros – Você não pode se esquecer de que os labirintos servem de caminhos estritamente atraentes e sensuais.
- O que há de sensual num labirinto?
- Pode ser uma verdade inscrita de forma confusa e insana, mas que está lá. De uma forma ou de outra aparecerá como uma verdade doce. Antes amarga pelo que traz na boca úmida de ódio e ressentimento. Você pode sim mover seus passos por este labirinto, pois como você me disse, as pétalas estão lá, e mesmo secas ainda perfumam o seu desconhecido. Faça a sua mágica! O que ela quer realmente de você?
- Talvez me afeiçoar às mentiras. Ainda estou aqui. Preciso achar a saída! Não vou poder mover meus pés por este labirinto, me desculpe, mas posso flutuar pelos cantos até achar a porta, e que seja a de saída, não a que me adentra no coração dela novamente...
- Boa sorte!
As águas arrastaram os dois como cinzas... e ele foi carregado pelo vento norte desta vez. Acho que nunca mais vai achar o caminho de casa...