terça-feira, 19 de junho de 2012

Tempo espaço

"O tempo espaço em que as coisas vão acontecendo não podem se misturar ao que, naturalmente pode me trazer aqui, deste lado onde seus passos intensificam minha busca. Esta mistura fica restrita ao que os dedos podem escrever somente. Um pedaço de sua face permeia o que é somente o que os olhos podem ver, meus olhos. Nas ruas os movimentos lentos das pessoas são tão grotescos quanto vis, não dizem nada. Quando estão enlatados a coisa piora. Não consigo identificá-la neste meandro de seres, muito menos sentir seu perfume. Assim não sigo o rastro.

O tempo espaço que meu coração percorre acompanhado é o mesmo em que ele sente a faca do julgamento. A todo instante. Os carros passam pela cabeça destroçada e ninguém se dá conta. Nem mesmo quem deveria se importar, assim."

Carlos percorria pela praia e a areia sob seus pés massageavam os dedos. Num canto ao lado de uma pedra, uma criança soluçava. Ao aproximar-se notou os olhinhos vermelhos. 'o que aconteceu?' 'Minha bola... chorando... o mar engoliu ela' o homem então virou-se de costas e sorriu para as montanhas. Pensou em como este mundo era grandioso por ainda criar gente cheia de imaginação, mas que em algum momento isto era perdido. Talvez quando um super humano cheio de álcool se achasse o maioral dentro de sua lata... esta criança poderia estar em seu caminho. Virou-se novamente para a criança e perguntou. 'Já que o mar engoliu sua bola, o que acha de comprarmos outra e mandarmos um aviso para o mar?' O menino apenas consentiu com a cabeça e saíram. Dez metros dali um ambulante vendia bolas entre outros brinquedos e roupas. Compraram e retornaram ao lugar onde o menino estava jogando sua bola. 'Agora fala pro mar: Esta bola aqui é minha!' Assim fez o menino. Logo em seguida Carlos se foi rindo da situação.

Nas horas seguintes os dedos substanciavam o significado de ser criança. Nós deveríamos ser um pouco mais criança e gritar com o mar quando este nos toma algo. Pode ser até mesmo uma visão daquilo com que sonhamos, mas que por alguma razão não alcançamos. Naquelas águas tranquilas o corpo dela flutuava dando sinais de que sua leveza conduzia sua mente.

Nas ruas os homens enlatados regurgitavam suas palavras amedrontando até mesmo as crianças, temerosas de cruzar de um lado a outro. As crianças que carregavam suas bolas para ir ao parque eram ameaçadas pelo vai-e-vem frenético dos carros. As crianças que vez por outra acusavam o mar por engolir suas bolas tinham suas vidas completamente reais ameaçadas.

E naquelas águas cristalinas seu corpo ainda estava vivo em minha mente. Tão sutural quanto irreal. Apenas uma imagem, mas as crianças brincando e cruzando as ruas me mantinham distantes.

Tempo espaço, pensamento em balaio, no tempo e no espaço onde as coisas se misturam e donde um dia pode sair uma conclusão do que veio, o que é, e o que vai na cabeça, corpo e mente destes que foram intitulados seres humanos. Uns pensam que são poetas neste espaço. Outros que são gente perdidas no tempo. Outros são as meninas dos olhos de Deus (chamadas crianças). Outras ainda estão alheias e tentam descobrir este espaço tempo espaço com as dobras e buracos de minhoca.

E naquelas águas cristalinas seu corpo ainda estava vivo em minha mente. Tão sutural quanto irreal. Apenas uma imagem, mas as crianças brincando e cruzando as ruas me mantinham distantes.