terça-feira, 25 de maio de 2010

Foi um momento...

Numa noite num misto numa certa hora ele enfim despertou. Era uma triste confirmação... sua vida (talvez) poderia ser retomada de um ponto passado onde dúvidas e desesperos faziam o mesmo sentido. Era maio ainda. A noite quente fazia sua cabeça trabalhar mais suavemente...


"Vê o que eu vejo?" - perguntava ela.

"Não, mas gostaria de ver. Talvez assim minha caminhada seria menos difundida neste meio de especulações sobre poetas. Não somos vis buscadores de situações, mas às vezes nos deparamos" - ele parou neste momento, olhou-a e pensou em todos os dias em que quis fazer algo errado - "nos deparamos"

"Porque você ficou calado? No que pensava?" - ela o interrompeu
"Pensava em como minha vida se acerta e se curva ante situações adversas, mas são situações que eu poderia controlar, como, por exemplo, olhar belos olhos e sentir desejo" - ele completou e seguiu - "Como eu estava dizendo às vezes nos deparamos com situações em que nosso espírito parece querer o impossível. Raras as vezes em que não..."

"Em que não?!" - ela quis se adiantar.

"Assim pode ficar difícil! Você me interrompe sempre! Que é que você vê?"

"Um som estranho, talvez instigante, depende do momento"

"Você vê ou ouve algo?"

"Os dois. Ouço as cores e vejo os sons, entende?"

"Não. Não entendo" - falou ele num tom mais debochado

"As cores vem num misto de azuis e os sons se misturam demonstrando o esverdeado que cerca todas as ilusões que me rodeiam. às vezes não consigo separar um do outro, o som do visual e tudo fica girando em minha cabeça. Tento recobrar o que houve com minhas angústias, mas tudo que consigo é afastar de mim alguns momentos de tristeza..."


Ela parou de falar e deitou-se no chão. Ele também deitou-se. Estavam numa praia deserta e puderam ver as estrelas tal como são. Em seu estado natural. Numa noite sem maiores estardalhaços.


"Eu te amo" - disse ela.

"Não consigo dizer o mesmo agora"


Ela o olhou com desconfiança. Desdenhou-se do seu falar sem pensar e quis esboçar tristeza na face, mas antes que isto pudesse ser revelado ele se adiantou. Não por perceber isto nela, mas por revelar o que realmente ia em seu coração.


"Não posso dizer o mesmo porque a mim apenas cabe desejar o que não posso e cabe apenas ainda aguardar. É dia e o dia me diz que devo esperar pelo grande dia que chegará junto com o dia em que a Terra conhecerá o seu dia de entender que os dias foram feitos para apenas serem dias e dias são dádivas que não podem ser desperdiçadas com a noite, como estamos aqui..."

"Confuso..." - encerrou ela coçando a cabeça

"É apenas isto... tenha paciência"


A noite seguiu com apenas um estalido do beijo seco... dormiram e amanheceram cada um em sua cama... Era um pesadelo ou um sonho? Talvez o dia em que tudo na terra tenha parado... Foi um momento...