domingo, 29 de março de 2009

Confusões acerca de mim

Foi naquele mesmo dia que acordei pra vida, sabe? Corri tanto pela rua aqui da cidade de São Carlos que quase acabei com o meu coração. “Por quê?” eu sempre me perguntava. Era tão fácil, sabe, não correr riscos e continuar no conforto de uma asa. Esconder-me sem ter razão. Mas aqueles tempos de esconderijo me fez ter hesitação demais. Não suportei mais! Quisera eu que você pudesse-me ver escrevendo estas palavras, só pra sentir o que eu senti, somente para me ver como realmente sou e nunca se importou. Querido pai: você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Você se lembra disso? Aquela carta me veio como uma fincada no extremo sul do coração, me dando a impressão de que o mar estava cobrindo meus pés como a uma formiga sendo engolida pelas minhas maldades. É simples lhe responder a isso. De quantos piões no chão eu preciso pra levar uma cintada? Quantas palavras doces eu ouvia antes de uns xingamentos? Quantas pipas nós soltamos antes e depois de sua bebedeira? Os seus olhos eram ameaçadores! E suas narinas exalavam dúvidas no ar como se fosse escapamento liberando fumaça preta de raiva. Ah meu pai, o medo não só ficou lá traz... só pra saber... como me fez amar meu filho como se ele fosse única jóia rara na face da Terra, pois a ele não pretendo negar nem mesmo um passeio no quintal... não é mesmo?
Sabe aquele dia em que a mamãe morreu por conta da faca? Estava em suas mãos, mas nunca lhe disse, nem a polícia descobriu. Sua cabeça estava tão dominada que seu coração era uma pedra imensa... inóspita aos olhos humanos. Neste dia eu fugi, pois sem mamãe o medo iria ser cada dia mais abrasador e me faria um ser – humano cada dia mais triste... e talvez nem chegasse a ser poeta. Neste dia minha vida começou, sem os carinhos e as brincadeiras de bola, mas começou para as brincadeiras de bola e os carinhos do filho que ainda iria nascer como parte de mim.

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